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Questionando Deus

agosto 27, 2009

A vida nesse mundo é uma linha tênue entre a tragédia e a normalidade. Seja por experiências pessoais ou de terceiros, o fato é que cada vez mais penso nisso. Praqueles mais sensíveis, é preciso se permitir ser feliz em meio a tanta tragédia que nos rodeia e, talvez, nos aguarda. Não dá pra gozar livremente,  a não ser que você coloque uma venda nos olhos e um par de fones nos ouvidos.

Ontem um amigo me contou uma história trágica, porém muito interessante.

Deus existe? Para Ana, empregada doméstica, Ele sempre existiu.  Com toda a certeza. Católica fervorosa, ela nunca deixou de se amparar na fé no Senhor para conseguir tocar sua vida de árduo trabalho na Terra. Nada colocava em cheque a sua crença. Nem a injustiça social reinante no planeta, onde poucos ricos subjugam muitos pobres, entre os quais ela se encontrava. Afinal, a bíblia já diz: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus. Olhando por esse lado, sua condição ecônomica era até uma benção.

Ana tinha um filho. Honesto, trabalhador, nunca fez mal a ninguém. Deus haveria de compensar uma existência livre de rebeldia e pecados capitais. Se não haveria prêmios, ao menos não haveria punições. Mas justo com ela tinha de ser diferente.

Não se sabe se fora uma punição. Poderia muito bem ser um prêmio: deixar o mundo jovem, esse mundo com tantas tragédias a nos espreitar nas esquinas. E se ele foi para um lugar melhor? Mas para Ana, o tirou que ceifou a vida de seu filho foi uma punição severa demais. E a fez, como há muito tempo não fazia, refletir profundamente: se Deus existia mesmo, por quê Ele não segurou a mão do chefe de seu falecido filho, evitando aquele disparo, que ainda por cima foi acidental? Por quê, se ele era uma pessoa tão boa e Ele é onipotente?

Deus existe? Agora é Ana quem se pergunta. O movimento ateísta corre o risco de ganhar uma nova adepta, graças a uma tragédia.

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ps1: Não sou ateu. Mas também não acredito nesse “Deus de igreja”. Me considero espírita, creio em preservação da individualidade após a morte (leia-se alma) e reencarnações. Mesmo assim, tenho um monte e severas críticas a alguns posicionamentos no centro espírita que frequento. Para quem quiser conhecer a doutrina, favor ler “O Livro dos Espíritos”, de Alan Kardec. Foi a partir desse livro que tomei contato com o Espiritismo. E vivo me cobrando de que preciso estudá-lo mais (com obras sérias e não esses romancezinhos caça-níqueis).

ps2: Como disse o Idelber Avelar outro dia, seria lindo se um jogador de futebol mostrasse os dizeres “Deus um delírio” na comemoração de um gol. Se o Kaká e o seu “I belong to Jesus” pode, isso também pode. Adoraria ver a reação dos neocons de plantão.